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A História que se Transformou em Lição de Descaso

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Mais de 150 anos de história estão caindo aos pedaços por falta de conservação e investimentos. A vila de Paranapiacaba, na região Metropolitana de São Paulo, é o exemplo explicito do desinteresse público na manutenção de uma importante parte da história do país.

Por Diego Oliveira e Colaboração de Diego Cardoso

O lugar, um verdadeiro oásis em meio à selva de pedra. A situação: deterioração a céu aberto.  Turistas e moradores há anos reclamam a calamitosa situação de abandono e de esquecimento de um dos poucos patrimônios históricos da Grande São Paulo. O lugar, que viu passar por suas ruas e trilhos toda a riqueza do ciclo do café, hoje vive uma situação de miséria.


 Imagem 10 –  Vagão de passageiros abandonado na entrada da Vila (Imagem: Diego Oliveira)

Desde o ano passado, uma decisão da Justiça Federal colocaria um fim aos dias de decadência que vive o ambiente e os bens do Patrimônio Histórico, Cultural e Natural da Vila de Paranapiacaba. A prefeitura de Santo André, que administra a vila, está dentre as três prefeituras do Estado de São Paulo contemplados no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) Cidades Históricas, que destinará R$ 1 bilhão em recursos federais para a revitalização de monumentos históricos em todo o Brasil.

Conforme último censo, divulgado em 2011, Santo André possui 678.486 habitantes. No mesmo ano, o PIB (Produto Interno Bruto) foi de R$ 16,9 bilhões, sendo o 29º maior do país e o 10º maior entre as cidades do Estado de São Paulo. O orçamento de 2014 do município foi de R$ 3,2 bilhões. Mesmo assim, a prefeitura cita a falta de verba como empecilho para a revitalização de Paranapiacaba.

Pela decisão da justiça, a vila ferroviária receberia R$ 42,4 milhões do governo federal para restaurar parte das antigas instalações da São Paulo Railway Company. O dinheiro, proveniente do PAC - Cidades Históricas seriam destinadas à reforma de 242 imóveis do distrito histórico. Mas o que ainda se vê, um ano após a decisão judicial, é o mesmo cenário de abandono visto em anos atrás. Projetos do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), da prefeitura, e da MRS Logística, que administra atualmente as instalações férreas do local ainda não saíram do papel.

Devido ao valor histórico, natural, cultural, Paranapiacaba tem potencial para se tornar o maior polo turístico da Grande São Paulo. Mas fatores burocráticos, a falta de vontade política e de investimentos privados transforma a antiga vila inglesa e boa parte da memória ferroviária do país, em um verdadeiro exemplo de descaso público.

Paranapiacaba tem boas histórias para contar: foi lá que aconteceu, por exemplo, o primeiro jogo de futebol do Brasil, promovido por Charles Miller, considerado o pai do futebol no Brasil e que era funcionário da São Paulo Railway Company. Outra curiosidade é que no lugar está duas das três primeiras locomotivas à vapor do Brasil. O Cine Lyra é considerado um dos primeiro cinemas do país. Porém, toda essa história se degrada dia após dia pelas mãos do tempo e pouco é feito para manter vivo esse passado.

Um Pedaço da História que Agoniza

No final do século XIX, São Paulo ganhou a sua 1ª linha férrea. A Estrada de Ferro Santos-Jundiaí não só transportava pessoas ou a produção cafeeira do interior paulista para o porto de Santos, mas transportava a maior riqueza de nosso país: a vida e a história do nosso povo.
Imagem 11 – Vista da antiga estação Alto da Serra, em 1908 (Imagem: Acervo ABPF/SP)


A majestosa visão do futuro das estradas de ferro, trazida à São Paulo por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, colocou fim ao isolamento do planalto paulista, rompendo as dificuldades de transpor a grande inclinação da Serra do Mar. Isso facilitou o transporte de mercadorias e o contato cultural e comercial com a Europa por meio do Porto de Santos. Com o trem, os paulistas ficaram mais próximos da Europa e pôde respirar os ares do futurismo e do modernismo, se tornando a vanguarda econômica e cultural do Brasil.

E em 1867 foi construído no alto da serra do mar, Há 796 metros do nível do mar, um centro operacional, técnico, administrativo e residencial para os funcionários da ferrovia inglesa que mantinham o funcionamento da estrada de ferro. Esta região, mais tarde, ficou conhecida como Paranapiacaba. De origem inglesa e ferroviária, o vilarejo surgiu como um grande acampamento de trabalhadores. Erguida com casas feitas em madeira de pinho e alvenaria em estilo inglês, a vila tem ruas cuidadosamente planejadas, harmonizando a paisagem com clima típico europeu do lugar.

Por aproximadamente 60 anos, a Estrada de Ferro Santos–Jundiaí foi vital para a expansão da economia. Calcula-se que, entre 1890 e 1930, tenham passado pelos trilhos da vila, cerca de 450 milhões de sacas de café de 60 quilos cada. No entanto, com o passar do tempo, a cafeicultura deixou de ocupar o posto de principal atividade econômica do país. A industrialização começou a florescer e o Brasil dava os primeiros passos para diversificar sua economia. Nos anos 1930, após sucessivas crises de superprodução, ocorreu um grande processo de desvalorização do café. Com isso, muitas áreas de plantio foram desativadas.

Nesse novo prisma, era inevitável que Paranapiacaba sentisse os primeiros sinais da decadência: pouco a pouco, a ferrovia e a própria vila perderam sua relevância. Fatores como as políticas públicas de favorecimento ao transporte rodoviário também contribuíram para este processo.

Em 1946, encerrou-se o período de concessão da SPR e os últimos ingleses foram embora. Máquinas, ferramentas trilhos, equipamentos e o acervo foram encampados pela União. Um ano depois já se iniciava uma alternativa ao transporte rodoviário com a inauguração da primeira pista da Rodovia Anchieta, ligando São Paulo a Santos.

No início da década de 1950, o governo brasileiro passou a investir fortemente no transporte rodoviário, em detrimento do ferroviário. Em 1957, a Rede Ferroviária Nacional – RFFSA assumiu o controle dos equipamentos e da malha ferroviária da antiga SPR. Os anos 1970 foram especialmente significativos para o processo de decadência que a Vila de Paranapiacaba experimentou com a redução da atividade cafeeira e a criação de novos sistemas tecnológicos que tornaram o sistema funicular obsoleto. Até que, em 1982, ele foi totalmente desativado.


Novos desafios para a preservação de Paranapiacaba

Foi também em 1981 que a antiga estação foi destruída por um incêndio. Dele, só se salvou o relógio fabricado pela Johnny Walker Benson, de Londres, que ainda se destaca na nova estação em meio à neblina, comum nessa região serrana. Muitas residências também foram demolidas, outras desabaram por conta da falta de manutenção ou sofreram incêndios a partir daquele ano. Naquela época, a estação ainda recebia o trem suburbano de passageiros que saía da Estação da Luz, em São Paulo, e passava por algumas cidades da região do ABC Paulista antes de chegar à vila, sua última parada.

Com a decadência do sistema ferroviário e sua privatização nos anos 1990, a malha passou ao controle da MRS Logística, que hoje opera o sistema apenas para transporte de carga. A viagem de trem entre São Paulo e Santos, que levava cerca de três horas, obrigou a população a encarar os atuais congestionamentos das rodovias do sistema Anchieta-Imigrantes.

As transformações ocorridas na vila, que conta atualmente com pouco mais de mil habitantes, provocaram debates sobre a importância da preservação ferroviária, histórica e dos ambientes naturais ao seu redor.

Em 1987, a vila e seu entorno foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Em 2000, tornou-se um dos núcleos da UNESCO da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Grande São Paulo. Em 2003, sua área foi tombada pelo patrimônio de Santo André (município ao qual pertence o distrito de Paranapiacaba desde 2001) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão federal ligado ao Ministério da Cultura. Naquele mesmo ano nascia o Parque Natural Municipal das Nascentes de Paranapiacaba, uma unidade de conservação voltada à preservação da rica biodiversidade local, a pesquisas e educação ambiental.

O Ecoturismo, o turismo de aventura, o circuito cultural e a educação ambiental estão entre as novas atividades desenvolvidas na vila que envolva diretamente a participação da população local e criam novos desafios para a preservação de Paranapiacaba.

A beleza da vila já atraiu a atenção de fotógrafos, escritores e cineastas, que fizeram das paisagens de Paranapiacaba cenários para suas obras. As estações e maquinários em exposição são verdadeiras aulas de história da técnica e da engenharia nas obras de arte da construção ferroviária. Um passeio inesquecível, que faz lembrar a Inglaterra, no meio da Serra do Mar.

A vila representa um importante patrimônio cultural da presença inglesa no Brasil, da história das ferrovias e da cafeicultura. Além disso, a região mantém uma reserva de Mata Atlântica, sendo também patrimônio ambiental brasileiro.

Desde 2001, se realiza todo mês de junho o Festival de Inverno que reúne milhares de pessoas em apresentações culturais, entre elas: orquestras, grupos de jazz, MPB, blues, chorinho, rock, teatro e festival gastronômico. Porém, o festival só não é mais divulgado justamente pelos problemas de infraestrutura do lugar.

É quase que inconcebível deixar em ruínas as marcas de um passado que trouxe muito progresso para toda a nação. Passado que realmente mais racional do que o presente. O Parque das Nascentes é um exemplo do trato sustentável no manejo dos recursos hídricos. No local, se destaca a nascente Olho d'água e a estação de tratamento, que abastece a vila sem o uso de bombas, evitando assim o desperdício de energia elétrica.

O que há de louvável é a iniciativa de alguns moradores e organizações locais que doam tempo, trabalho, dinheiro e dedicação para a manutenção da vila. Vale ressaltar que em todo o mundo, há somente duas vilas ferroviárias inglesas preservadas: Paranapiacaba e Thirlmere, nos arredores de Sidney – Austrália.

Tal como Dom Quixote torna-se evidente a necessidade em lutar contra os "moinhos de vento", mas com esperança de que esta luta dê certo. Pois não é necessário que a situação chegue ao fundo do poço, para que se possam realizar os primeiros passos de um reerguimento transformador na logística, na estrutura, na história e no turismo de uma região esquecida, e ao mesmo tempo tão próxima da cidade mais rica do país.

No entanto, é necessário refletir sobre o significado de preservação histórica e cultural de uma maneira geral. Não se trata apenas de cultivar a memória de um passado distante. É preciso também avaliar de que maneira esse rico patrimônio natural e cultural a ser protegido pode dar vida digna à comunidade local, no presente e no futuro. Que a névoa e o descaso, tão presentes em presente em Paranapiacaba, não encubram aquilo que o sol tem a mostrar: um lugar onde a harmonia entre cultura, história e meio ambiente possam ser mais um orgulho para todas as pessoas.

As Dificuldades em Manter Viva a História da Ferrovia

domingo, 18 de maio de 2014

A vila abriga um museu ferroviário, com diversas peças e estruturas de trens antigos. Porém, a falta de políticas públicas compromete a preservação deste importante capítulo da história paulista.

O local conhecido hoje por Paranapiacaba é o último ponto de planície antes que os trens desçam a Serra do Mar. Gradativamente, o espaço começou a abrigar os trabalhadores da via férrea, até se tornar uma vila.  “Desde a construção da ferrovia, surgiu o lugar, primeiro para abrigar os operários da construção da ferrovia. Depois para abrigar os ferroviários, as pessoas que trabalhavam operando a ferrovia”, explicou o chefe de trem da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), Anderson Alves Conte.
 

Imagem 5 – Visão Geral da Ferrovia e da vila inglesa em Paranapiacaba (Imagens: Diego Oliveira)

Conte explica que o projeto da SPR foi algo grandioso para a época, cujo principal problema - e ainda continua sendo - era os quase 800 metros de descida até o porto de Santos. “O obstáculo natural da ferrovia é a Serra do Mar, porque limita o número de trens. Hoje, por exemplo, a capacidade é de cinco vagões de carga por viagem no trecho inclinado, de Serra. Vem um trem com 100 vagões do interior de São Paulo, por exemplo, e quando chega aqui em Paranapiacaba, esse trem tem de ser fracionado de cinco em cinco vagões. Antigamente ele descia pelo sistema funicular (cabos de aço em máquinas fixas), depois vieram os locobreques (locomotivas especiais para frear em descidas) e depois o sistema da cremalheira (engrenagem com trilho dentado)”.


                 

Imagens 6 e 7– Máquinas usadas no Sistema Funicular da Ferrovia em Paranapiacaba (Imagens: Diego Oliveira)



Como a ferrovia foi construída na virada do século XIX para XX, a tecnologia da época era muito inferior se comparada com a de hoje, fazendo com que a via fosse construída quase forma manual. O processo, porém, trouxe algumas mazelas. O maquinista e diretor do Museu do Funicular, Sidney Gonçalves, recorda as vítimas que se perderam durante a construção da ferrovia em uma época de muito trabalho braçal: “É sabido que muitas vidas se perderam na construção da ferrovia por conta de deslizamentos de terra e de acidentes naturais”.

A vila hoje possui duas partes: a de baixo (dos ingleses) e a de cima (dos Portugueses). A parte inferior abriga mais as caraterísticas férreas, pátios de manobras, máquinas, galpões, rotunda, casas dos operários, o salão de festas que os mesmos utilizavam para entretenimento, um campo de futebol a até mesmo a casa do engenheiro-chefe da ferrovia, que está localizada num ponto alto, em que é possível observar grande parte do local. Hoje, a casa se tornou um museu, intitulado “Castelinho”.

Na parte baixa há ainda trens antigos abandonados ao tempo, hoje todos enferrujados. É possível observar também a casa de manutenção dos trens, a já desativada estação Paranapiacaba, construída em 1874 – antiga parada Alto da Serra -, as atuais linhas férreas que passam os trens de carga, com destino ao porto de Santos.

O Museu está localizado num antigo galpão de manutenção de trens, ou seja, o próprio local já é histórico. Lá, os visitantes podem ver diversas peças antigas de trens, placas utilizadas na via – cujo português é arcaico – e até trens velhos expostos, desde a época da SPR até outros veículos pertencentes a outras concessionárias, como a Ferrovias Paulistas S/A e da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

                                      Imagens 8 – Vagão da FEPASA em processo de restauro (Imagens: Diego Oliveira)

Tanto Conte, como Gonçalves confirmam a ausência de políticas públicas para a preservação do Museu Ferroviário de Paranapiacaba. “A associação não recebe um centavo sequer, seja por parte da Prefeitura, dos governos do Estado ou Federal para trocar um parafuso da porta do museu. A arrecadação vem dos bilhetes que as pessoas compram para visitar o museu de final de semana. A mão de obra do museu é 80% voluntária. É preciso um olhar das autoridades que o museu não é só da associação, mas sim de todos, é o RG, a certidão de nascimento do desenvolvimento de São Paulo. E falta apoio e dinheiro para manter tudo isso”.

Com o passar dos anos, a ferrovia foi passando para o controle de diversas empresas, o que mudou também a administração da vila. Conte acredita que essas trocas de gestão prejudicam a preservação de Paranapiacaba. “Com a privatização da década de 90, a Rede Ferroviária [uma das empresas que administrou a ferrovia] acabou. A ferrovia passou para a concessionária, que hoje é a MRS Logística. Para a concessionária foi passado só a via férrea, ou seja, os trilhos, vagão de carga e locomotiva. Não foi passada as antigas instalações e não foi passada a vila. A vila de Paranapiacaba foi repassada para a prefeitura de Santo André. Nessas transições, as coisas não ficaram muito as claras. Eu vejo que ela não está sendo bem cuidada como deveria estar”.

O secretário de cultura e turismo da cidade de Santo André, Raimundo Taraskevicius Sales respondeu há algumas perguntas sobre a ferrovia, em entrevista para o blog  Descubra Paranapiacaba:

Repórter - Paranapiacaba é patrimônio histórico. Por que não é mais bem aproveitado?

Secretario - Veja bem: a prefeitura se esforça ao máximo junto ao governo do Estado de São Paulo para dar valor que essa vila merece, tornando assim muito mais explorada pela sua história de vida que tem, mas esparramos muito na burocracia e interesses políticos infelizmente.

Repórter - Diante dessa burocracia e interesse políticos não é possível, digamos bater de frente e ver o que é melhor para cidade e para a vila?

Secretário - Sim e não ao mesmo tempo, o governo disponibilizou R$50 milhões de reais para uma pela reforma, mas como já falei interesses políticos atrapalha e muito para iniciar as obras.

Repórter - O Sr. acredita que mesmo com tantos obstáculos é possível acreditar que a vila pode ser melhor explorada pelos turistas e assim despertando a curiosidade de quem não há conhece?

Secretario - Sim! Estamos trabalhando muito forte para isso e temos fé que vai dar tudo certo, tudo está caminhando para isso, apesar de imprevistos no caminho o que é normal em toda grande obra de ousadia para crescer e levantar um grande patrimônio histórico. 

Diante de toda historia e essa esperança que mostra o secretário, devemos aguarda e cobrar e muito os responsáveis para que tudo ande no caminho certo e a histórica da vila seja mais conhecida e explorada pela população. Porque ela merece faz parte desse país gigante e adorável que é o Brasil.

A aventura na trilha da "fumaça"




Os Cães e a Vila: Chega de Abandono

 A pequena Paranapiacaba sofre com o alto número de bichos abandonados em suas ruas. Apesar das ações de conscientização praticadas pelas autoridades e por moradores, os animais "descartados" vagam aos montes pela vila. Mais que um crime ambiental, uma mazela social!


O flagrante de alguém descartando algo na rua é algo extremamente triste. Quando se trata de um animal, o sentimento de indignação é ainda maior: o cão, que teve desde sempre o dono como referência, de repente se vê sozinho e atordoado em um lugar desconhecido e sujeito a toda sorte. Ver o “ser humano” partindo para sempre, é, para o bicho, um sinônimo aterrorizante: abandono. Desolado, o bicho, não sabe o que fazer.

O abandono de animais não se resume a deixar cão ou gato no meio da rua, debaixo de viadutos, no meio do mato, ou em um lugar distante. É uma atitude que revela a falta de comprometimento com a vida, com as responsabilidades e com a convivência harmônica em sociedade. Ao jogar fora um animal domesticado por ele mesmo, o ser humano deixa bem claro o que ele realmente é: um ser nada humano.

O crime, praticado de forma diária e impune em todos os grandes centros urbanos, não desprezou a pacata vila de Paranapiacaba, no alto da Serra do Mar, município de Santo André. Os moradores bem que tentam ajudar os animais. Mas pouco pode fazer, ante a enorme quantidade de bichos, em sua maioria cães, que vagam famintos pelas ruas do lugar.


 Imagem 9 – Morador é observado por cães enquanto saboreia um espetinho de carne (Imagem: Diego Oliveira)


Paranapiacaba está localizada a cerca de 30 quilômetros de distância do centro de Santo André. Pelo fato de ser um local distante, e com pouco efetivo policial para fiscalizar a área, torna-se muito comum o abandono dos animais, já que fica mais difícil de identificar o infrator. Também não há patrulha constante.

Os moradores reclamam do risco de pegarem doenças provocadas pelos cães como sarna ou raiva. O comerciante Antônio Fernandes, 61, é proprietário de um bar na vila. Ele afirmou que, de dois anos para cá aumentou muito o número de cães abandonados e que isso prejudica a imagem do distrito. “Os cães atrapalham bastante. Um dia chegou a ter dez de uma vez incomodando os clientes”. “Muitos deles estão doentes, alguns com sarna ou perdendo o pelo. E isso é perigoso pra todos nós, pois podemos pegar até uma doença”, garantiu.

A prefeitura de Santo André, por meio do Departamento de Vigilância à Saúde de Santo André fez um levantamento que aponta que a população canina na Vila é superior à média da cidade. Foram registrados cerca de 1 cachorro para cada 3 moradores. Em números, isso representa mais de 400 cães para uma população de pouco mais que mil habitantes.

Como paliativo, a equipe de Controle de Zoonoses de Santo André realiza anualmente no local, um mutirão de vacinação e castração gratuita de cães e gatos, entre domesticados e comunitários espalhados ou abandonados pelo vilarejo. No último mês de março, o mutirão ocorreu em parceria com os médicos veterinários cadastrados via convênio municipal, além do apoio da UIPA (União Internacional Protetora dos Animais). Segundo a Zoonose, foram castrados mais de 100 animais na vila. A ação envolveu ainda um trabalho educativo para a população local, já que a taxa de cobertura vacinal dos animais da vila é de 73,2%, média inferior à do restante do município andreense.

O turista que vem à vila fica perplexo com a quantidade de animais. Em sua primeira visita à Paranapiacaba, o veterinário Mantovane de Morais, 37, se surpreendeu ao se deparar com uma população relativamente grande para um lugar tão pequeno. “Lá em São Paulo a gente vê bastantes animais largados nas ruas, revirando lixo e tudo mais; Só que aqui deveria ter uma atenção maior quanto aos bichos, porque é um lugar turístico!”. “A gente vê que tem alguns cães e gatos que estão precisando de cuidados; Hoje eu vi até galinha no meio da rua”, complementou.

Morais, que também é coordenador da Associação Paulista de Auxílio aos Animais, prospectou que é possível fazer ações de controle da população animal, assim como já vem sendo feito pela prefeitura no local, mas que está na consciência de cada um, praticar o verdadeiro papel responsável para o cuidado com os bichos. “Uma proposta interessante é aumentar o trabalho de conscientização dos moradores e visitantes sobre a importância da posse responsável dos animais domésticos. O trabalho educacional sobre posse responsável é a alternativa mais prudente para evitar o abandono, as crias indesejáveis e as doenças oriundas em sua maioria de cães e gatos. Mas o ideal seria que todo o país tivesse um sistema integrado e padronizado de microchipagem para a identificação desses proprietários ou pessoas que cometem o crime de abandono de animais. Isso dá cadeia, e os responsáveis deveria ser punidos legalmente. Fora isso, cada um de nós temos por dever ajudar os bichos, e não prejudica-los”.

Por lei, os municípios são obrigados a serem mantenedores de abrigos mantidos por ONGs e protetores independentes, arcando com os gastos com ração, veterinários e medicamentos. São ainda legalmente responsáveis pela vida e pelo bem estar dos animais abandonados em sua jurisdição. Já para as pessoas, cabe alertar que largar ou maltratar animais é um crime federal com pena de detenção de 15 meses a 1 ano e multa, de acordo com a Lei de Crime Ambientais. A punição, branda por aparência, pode facilitar ao senso de impunidade. Mas cabe a todos nós proteger e zelar pelos amigos que tanto nos fazem bem. 

A Trilha da Cachoeira, mais conhecida como "da Fumaça"

segunda-feira, 5 de maio de 2014

No roteiro ecológico, rios de águas cristalinas, sobre a cobertura da imponente diversidade da Mata Atlântica, som de pássaros e o convívio mais próximo com a natureza.

O verde exuberante da mata e o cinza da densa neblina dão à Paranapiacaba uma atmosfera especial e peculiar ao público que visita a região. É nessa atmosfera que as atividades eco turísticas são exploradas. O pequeno e calmo Rio das Onças, encravado no alto da Serra do Mar, se encontra com o Córrego das Pedras mais especificamente na região chamada de Vale da Morte. Logo em seguida, a paisagem mostra uma das muitas curiosidades e aventuras da trilha: uma cachoeira de 130 metros de altura. Essa paisagem desperta aos turistas o porquê o apelido de “fumaça”, deixando a resposta somente para quem realmente têm prazer e a sorte de desfrutar da trilha.


Imagem 1 – Topo da Cachoeira da Fumaça (Imagens: André Pimentel e Diego Cardoso)


A região de Paranapiacaba tem mostrado seu talento para trilhas desde séculos passados. Sobre aquelas terras íngremes da Serra do Mar passaram índios sul-americanos que cruzavam o Caminho do Peabiru em direção aos Andes, insistentes padres jesuítas que subiam até o Planalto de Piratininga (que anos mais tarde seria conhecido como São Paulo), trabalhadores europeus que ajudariam a escrever a história ferroviária do Estado, e agora, milhares de turistas e amantes da natureza apaixonados por aventuras radicais.

As curiosidades começam nas cachoeiras, mas os mirantes, relevo, vegetação, fauna, o vale, os rios, lagos, prainhas, o silêncio, as águas, as rochas, a paisagem, da rodovia até um pouco além das torres de alta tensão, a trilha atravessa uma propriedade particular desmatada há muito tempo atrás, para a instalação de uma indústria de plásticos.


Imagem 2 – Linhas de Transmissão Elétrica em Paranapiacaba (Imagens: André Pimentel e Diego Cardoso)


O mais interessante é que os brejos e atoleiros são formados pela umidade e pelo pisoteio em solo argiloso repleto de poças d’água. Escorrega, gruda e afunda: parece ser perigoso, mas, segundo muitos turistas, vale muito a pena se sujar e participar dessa aventura.
 


Imagem 3 – Atoleiro na Trilha da Cachoeira da Fumaça em Paranapiacaba (Imagens: André Pimentel e Diego Cardoso)

Regeneração da floresta
 
É muito interessante vislumbrar a forma com que a natureza busca o seu equilíbrio através dos estágios de sucessão da vegetação, com espécies emergentes de grande porte, despontando em alguns pontos, entre os arbustos, ou sobre os descampados. Essa vegetação é chamada de campo sujo. O barulho incomum e estranho que vêm das torres de transmissão de energia dá até medo. Impressiona aqueles que não estão habituados, mas nada que impeça de continua a aventura.

A descida ao pé da Cachoeira da Fumaça é para quem gosta de adrenalina. Principalmente se tiver chovido! A última parte da trilha para a Cachoeira da Fumaça é uma descida super inclinada, por uma cicatriz de escorregamento paralela à cachoeira. Não há raiz, árvore e nem nada para se segurar, o único jeito é confiar no quinto apoio (vulgo bumbum, rs!) e se arrastar sentado morro abaixo.

A cachoeira revela seus deslumbrantes 130 metros de queda em uma espécie de escadaria do rio, sobre vários patamares de rocha. As chuvas na serra dão mais volume e beleza à queda d’água. Diante dessa aventura, a sensação de liberdade é constante na trilha.  Algo que vale, e muito a pena conferir. Trata-se de uma experiência para vida toda, e pra quem gosta de aventura e natureza é um prato cheio.


Imagem 4 – Início do último trecho da Cachoeira da Fumaça em Paranapiacaba (Imagens: André Pimentel e Diego Cardoso)

Segundo o estudante de turismo na universidade paulista (UNIP) Joel Liberty de Souza, veio da capital paulista para conhecer as belezas da região e atesta que a cachoeira deixa toda sua imaginação ir às alturas.  “Nunca vi nada igual! É tudo tão real e próximo da natureza que passaria semanas aqui procurando algo novo, e mais bonito, mas tenho certeza que não encontraria”.

Diante de tanta inspiração e admiração, o estudante - aventureiro destaca como a vila faz bem ao Brasil. “Conheço vários lugares, mas só de pisar em Paranapiacaba sinto uma energia boa; O desenvolvimento de São Paulo passou por aqui. Aliás, impossível não passar por aqui, quando se trata de aventuras (risos)”.

Paranapiacaba tem diversas trilhas no meio da Mata Atlântica para fazer, mas o monitor Guilherme Pontes, que há mais de dez anos organiza as “expedições da aventura”, como chama as trilhas, destaca a importância de não fazê-las sozinho: “Tem sempre alguém que acha que não precisa de ajuda, mas quando você não conhece bem o lugar é sempre bom contar com a ajuda de um profissional; Infelizmente já tivemos caso até de morte, é sempre bom está atento”.

Segundo o guia, as trilhas da região não contam com nenhum apoio ou fiscalização por parte do poder público. Vez ou outra há turistas que se arriscam sozinhos e acabam se perdendo nas matas. Qualquer apoio seja da Polícia Militar, ou da Polícia Ambienta ou até mesmo do Corpo de Bombeiros é sempre muito demorado, pois a região não conta com um efetivo muito grande na localidade. Muitas vezes são os próprios guias e monitores turísticos quem fazem trabalhos de buscas há grupos que eventualmente desaparecem na mata. Só quando o caso é grave, é solicitado o apoio da Polícia, e que muitas vezes é bem limitado.

“Como em qualquer passeio é essencial se preparar com antecedência, além de ter colaboração de um profissional experiente, mesmo que o turista esteja habituado à prática dos esportes de aventura. Sempre se deve realizar uma pesquisa da região, e contar com todos os materiais de segurança, para disfrutar de um ótimo passeio”, enfatiza Pontes, sobre os cuidados aos praticantes que desejam curtir as trilhas da região. Paranapiacaba faz parte deste imenso Brasil. Por isso, não deixe de conferir um lazer barato e divertido e tão pertinho da capital paulista.

Chegando em Paranapiacaba

 

MAPA

terça-feira, 15 de abril de 2014

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