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As Dificuldades em Manter Viva a História da Ferrovia

domingo, 18 de maio de 2014

A vila abriga um museu ferroviário, com diversas peças e estruturas de trens antigos. Porém, a falta de políticas públicas compromete a preservação deste importante capítulo da história paulista.

O local conhecido hoje por Paranapiacaba é o último ponto de planície antes que os trens desçam a Serra do Mar. Gradativamente, o espaço começou a abrigar os trabalhadores da via férrea, até se tornar uma vila.  “Desde a construção da ferrovia, surgiu o lugar, primeiro para abrigar os operários da construção da ferrovia. Depois para abrigar os ferroviários, as pessoas que trabalhavam operando a ferrovia”, explicou o chefe de trem da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), Anderson Alves Conte.
 

Imagem 5 – Visão Geral da Ferrovia e da vila inglesa em Paranapiacaba (Imagens: Diego Oliveira)

Conte explica que o projeto da SPR foi algo grandioso para a época, cujo principal problema - e ainda continua sendo - era os quase 800 metros de descida até o porto de Santos. “O obstáculo natural da ferrovia é a Serra do Mar, porque limita o número de trens. Hoje, por exemplo, a capacidade é de cinco vagões de carga por viagem no trecho inclinado, de Serra. Vem um trem com 100 vagões do interior de São Paulo, por exemplo, e quando chega aqui em Paranapiacaba, esse trem tem de ser fracionado de cinco em cinco vagões. Antigamente ele descia pelo sistema funicular (cabos de aço em máquinas fixas), depois vieram os locobreques (locomotivas especiais para frear em descidas) e depois o sistema da cremalheira (engrenagem com trilho dentado)”.


                 

Imagens 6 e 7– Máquinas usadas no Sistema Funicular da Ferrovia em Paranapiacaba (Imagens: Diego Oliveira)



Como a ferrovia foi construída na virada do século XIX para XX, a tecnologia da época era muito inferior se comparada com a de hoje, fazendo com que a via fosse construída quase forma manual. O processo, porém, trouxe algumas mazelas. O maquinista e diretor do Museu do Funicular, Sidney Gonçalves, recorda as vítimas que se perderam durante a construção da ferrovia em uma época de muito trabalho braçal: “É sabido que muitas vidas se perderam na construção da ferrovia por conta de deslizamentos de terra e de acidentes naturais”.

A vila hoje possui duas partes: a de baixo (dos ingleses) e a de cima (dos Portugueses). A parte inferior abriga mais as caraterísticas férreas, pátios de manobras, máquinas, galpões, rotunda, casas dos operários, o salão de festas que os mesmos utilizavam para entretenimento, um campo de futebol a até mesmo a casa do engenheiro-chefe da ferrovia, que está localizada num ponto alto, em que é possível observar grande parte do local. Hoje, a casa se tornou um museu, intitulado “Castelinho”.

Na parte baixa há ainda trens antigos abandonados ao tempo, hoje todos enferrujados. É possível observar também a casa de manutenção dos trens, a já desativada estação Paranapiacaba, construída em 1874 – antiga parada Alto da Serra -, as atuais linhas férreas que passam os trens de carga, com destino ao porto de Santos.

O Museu está localizado num antigo galpão de manutenção de trens, ou seja, o próprio local já é histórico. Lá, os visitantes podem ver diversas peças antigas de trens, placas utilizadas na via – cujo português é arcaico – e até trens velhos expostos, desde a época da SPR até outros veículos pertencentes a outras concessionárias, como a Ferrovias Paulistas S/A e da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

                                      Imagens 8 – Vagão da FEPASA em processo de restauro (Imagens: Diego Oliveira)

Tanto Conte, como Gonçalves confirmam a ausência de políticas públicas para a preservação do Museu Ferroviário de Paranapiacaba. “A associação não recebe um centavo sequer, seja por parte da Prefeitura, dos governos do Estado ou Federal para trocar um parafuso da porta do museu. A arrecadação vem dos bilhetes que as pessoas compram para visitar o museu de final de semana. A mão de obra do museu é 80% voluntária. É preciso um olhar das autoridades que o museu não é só da associação, mas sim de todos, é o RG, a certidão de nascimento do desenvolvimento de São Paulo. E falta apoio e dinheiro para manter tudo isso”.

Com o passar dos anos, a ferrovia foi passando para o controle de diversas empresas, o que mudou também a administração da vila. Conte acredita que essas trocas de gestão prejudicam a preservação de Paranapiacaba. “Com a privatização da década de 90, a Rede Ferroviária [uma das empresas que administrou a ferrovia] acabou. A ferrovia passou para a concessionária, que hoje é a MRS Logística. Para a concessionária foi passado só a via férrea, ou seja, os trilhos, vagão de carga e locomotiva. Não foi passada as antigas instalações e não foi passada a vila. A vila de Paranapiacaba foi repassada para a prefeitura de Santo André. Nessas transições, as coisas não ficaram muito as claras. Eu vejo que ela não está sendo bem cuidada como deveria estar”.

O secretário de cultura e turismo da cidade de Santo André, Raimundo Taraskevicius Sales respondeu há algumas perguntas sobre a ferrovia, em entrevista para o blog  Descubra Paranapiacaba:

Repórter - Paranapiacaba é patrimônio histórico. Por que não é mais bem aproveitado?

Secretario - Veja bem: a prefeitura se esforça ao máximo junto ao governo do Estado de São Paulo para dar valor que essa vila merece, tornando assim muito mais explorada pela sua história de vida que tem, mas esparramos muito na burocracia e interesses políticos infelizmente.

Repórter - Diante dessa burocracia e interesse políticos não é possível, digamos bater de frente e ver o que é melhor para cidade e para a vila?

Secretário - Sim e não ao mesmo tempo, o governo disponibilizou R$50 milhões de reais para uma pela reforma, mas como já falei interesses políticos atrapalha e muito para iniciar as obras.

Repórter - O Sr. acredita que mesmo com tantos obstáculos é possível acreditar que a vila pode ser melhor explorada pelos turistas e assim despertando a curiosidade de quem não há conhece?

Secretario - Sim! Estamos trabalhando muito forte para isso e temos fé que vai dar tudo certo, tudo está caminhando para isso, apesar de imprevistos no caminho o que é normal em toda grande obra de ousadia para crescer e levantar um grande patrimônio histórico. 

Diante de toda historia e essa esperança que mostra o secretário, devemos aguarda e cobrar e muito os responsáveis para que tudo ande no caminho certo e a histórica da vila seja mais conhecida e explorada pela população. Porque ela merece faz parte desse país gigante e adorável que é o Brasil.

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